O TDAH é um transtorno neurobiológico que se manifesta na infância e costuma atrapalhar o desempenho dos alunos em sala de aula. Isso ficou ainda mais evidente depois que as escolas foram obrigadas a adotar o ensino remoto, durante a quarenta imposta pela proliferação do novo coronavírus.
Quem afirma é a leitora Renata Leite Nunes, 43 anos, que nos escreveu contando os dilemas enfrentados pela filha de 8 anos. Melissa está no 3° ano e tem TDAH. “Tenho que fazer com ela as tarefas online e as de casa. É muita coisa para uma criança que não tem foco, concentração e que ainda não sabe ler. Ela fica estressadíssima com tanta tarefa”, conta Nunes.
Pensando em ajudar crianças e jovens como Melissa, além de pais, mães e professores, fizemos a seguinte pergunta a cinco especialistas: Como ensinar alunos com TDAH a distância?
Estas são suas respostas.
– Camila León, doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Mackenzie e professora universitária.
“Primeiro, confirme com os pais como anda o tratamento clínico (medicamentoso e terapêutico) do aluno com TDAH. O ideal seria a permanência dos tratamentos anteriores ao isolamento social e alinhamento do professor com os terapeutas.
Aproveite para conhecer melhor os interesses do aluno (filmes, músicas e personagens) e atividades que têm conseguido fazer em casa, para integrá-los aos conteúdos acadêmicos. Alunos motivados, prestam mais atenção e aprendem melhor. A ‘técnica pomodoro’ pode ajudar nos estudos.
Se necessário, repita a operação por até mais três vezes e então dê uma pausa maior. Lembre-se de reconhecer e elogiar o esforço do aluno.”
– Waléria Henrique dos Santos Leonel, psicóloga, especialista em educação especial e inclusiva pelo Centro Universitário de Maringá.
“Ensinar uma pessoa com TDAH ainda é um grande desafio, pois muitas vezes instituições de ensino e, principalmente, o profissional não está preparado para a oferta do atendimento diferenciado.
Pensando na modalidade de ensino a distância, é importante realizar as adequações pedagógicas conforme a necessidade da pessoa, visando corresponder às habilidades e déficits individuais e promoção das habilidades acadêmicas. Como a organização do tempo, oferta de atividades adaptadas, suporte de equipe profissional e familiar, sendo fundamental para o sucesso do aluno.
Destaco que é importante sempre lembrarmos que cada pessoa terá a sua forma de aprender e isso irá demandar recursos que suprem a sua necessidade.
Desta forma, toda pessoa é capaz de aprender e superar as suas limitações e, para isso, requer que os profissionais envolvidos acreditem na potencialidade e busquem cada vez mais as capacitações necessárias para entender sobre os transtornos que impactam na aprendizagem, para alcançar o sucesso do aluno.”
-Nadia Bossa, diretora do Instituto Internacional de Estudos e Pesquisa em Psicopedagogia e Neurociências (INEPpsin)
“Professores e família devem receber capacitação para a elaboração e acompanhamento das aulas online. Além disso, as aulas devem ser elaboradas na forma de tópicos ou seções de no máximo 15 minutos de explanação ou demonstração sobre o conteúdo acadêmico.
Na sequência deve ser solicitado a realização de uma atividade de verificação de aprendizagem sobre o tema que deve ser enviada ao professor, no prazo máximo de 15 minutos. Deve ser desafiadora, ter proximidade ou indicativos de aplicação próximos à realidade de vida do aluno. Essa metodologia deve se repetir até o término do tempo de aula.
A criatividade e o domínio das ferramentas de uma plataforma para cursos online, por parte do professor é essencial para que possa tornar as aulas remotas suficientemente atraentes. Humor, Imagens, e boa organização são essenciais para que se dê a aprendizagem. ”
– Bruno Sini Scarpato, doutor em psicologia médica, terapeuta cognitivo comportamental e neuropsicólogo.
“Existem 5 elementos básicos que devem ser considerados na resolução de um problema e que podem ser adotados no ensino a distância de jovens com TDAH. O primeiro deles é a definição do problema. Aqui considero qualquer ação do aluno que entrava o processo de aprendizagem.
O segundo elemento é a determinação de metas. Esta meta poderá, por exemplo, ser o aumento de 25% na média final de Geografia, ou a entrega de ao menos 80% das lições de casa, ou registro diário da agenda, dentre outros comportamentos. O terceiro elemento será o estabelecimento dos passos a serem seguidos para alcançar a meta estabelecida. Aqui será fundamental que o profissional envolva os pais nesta etapa, e elabore algo que seja factível a estes.
Como o aluno com TDAH apresenta dificuldade em manter foco durante toda a aula e baixa tolerância a leituras longas, uma estratégia seria reforçar o aprendizado do dia por meio de uma leitura rápida do conteúdo no caderno. A leitura do caderno, além preencher lacunas criadas pela oscilação da atenção na aula, permite aos pais identificar se seu filho está anotando no caderno o conteúdo ministrado em aula. Já o planejamento do estudo dividido em blocos facilita a organização mental e assimilação das informações. A definição de tempo de duração destes blocos e de seus intervalos, aliviará a intolerância às longas leituras.
O quarto elemento é a supervisão das atividades, que pode ser facilitado lançando-se mão de recursos tecnológicos como plataformas online de ensino ou de dos meios de comunicação tradicionais, como bilhetes na agenda e encontros periódicos.
A etapa final deste processo será a avaliação dos resultados e ajuste das estratégias. Quando mais específico forem nas definições das metas, mais fácil será avaliar a eficácia do plano de ensino criado.
O ensino a distância de alunos com TDAH é desafiador, mas possível. Resgatar o aluno que está à deriva em seus pensamentos, e guiá-lo a terra ‘daqueles que aprendem’, proporcionará uma experiência libertadora para ele e sua família. ”
-Valquiria Munique de Melo Costa, pedagoga e especialista em educação especial e inclusiva.
“As aulas remotas para alunos com TDAH devem contar com momentos de interação em casa realizados de acordo com suas possibilidades visando a construção de sua autonomia.
Algumas estratégias podem contribuir na organização e acompanhamento das demandas escolares à distância: organização de uma rotina de estudos, criar mapas conceituais, confecção de jogos, acesso a diferentes textos, criar checklist, montar calendários para acompanhar as aulas, planejar a semana, seleção prévia de diferentes materiais de pesquisa (livros, jornais, revistas, sites) e exploração de diferentes recursos tecnológicos digitais.”
Fonte: https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/ensinar-alunos-tdah-a-distancia/
Nenhum comentário:
Postar um comentário