terça-feira, 28 de maio de 2013

Americano cria conexão com filho autista em ensaio de fotos

Projeto de Timothy Archibald, que registra rituais repetitivos do filho, Elijah, foi lançado em livro




O fotógrafo americano Timothy Archibald realizou um projeto fotográfico com imagens de seu filho Elijah, que tem autismo. Archibald se sentia totalmente desconectado do filho, que tinha cinco anos quando ele começou a fotografá-lo. Muitas vezes ele se questionava sobre a razão da condição de seu filho, se Elijah deveria tomar medicamentos.
Devido a esta dificuldade de comunicação com Elijah, Archibald iniciou o projeto Echolilia. O projeto se transformou em um livro com 43 fotos, no qual registra alguns dos rituais repetitivos de Eli, como o fotógrafo chama o filho.

O nome do projeto vem da palavra ecolalia, o termo técnico usado para indicar a repetição de sons e frases muito comum entre crianças com autismo, incluindo crianças que podem falar e frequentam escolas regulares, como é o caso de Elijah.
"No começo, Eli não sabia exatamente do que se tratava", disse Archibald à BBC. "Mas, depois, se transformou no projeto de ambos. Foi como se finalmente tivéssemos algo em comum, juntos. Meu papel como líder mudou. Me transformei em amigo e era isto o que ele precisava naquele momento."
"As fotos feitas no começo do projeto são mais escuras que as últimas. Demonstram a tensão que se vivia em casa", acrescentou.
O relacionamento entre pai e filho mudou radicalmente. "O que aconteceu com Eli e eu é que logo conseguimos uma base, uma história compartilhada. É como quando você sofre um acidente de carro e só você e seu amigo sobrevivem, é criado um vínculo, ocorre uma aproximação. Aconteceu isto quando Echolilia nasceu e não existia nenhuma ligação entre nós", disse o fotógrafo.
"Meu interesse pela fotografia provocou o nascimento do projeto, mas agora preciso que ele tenha seus próprios interesses. Ele é atraído por beisebol, videogames, como qualquer menino. Cada vez que ele assina um exemplar do livro (todos os livros são autografados por pai e filho), Eli recebe um dólar de recompensa. Por isso, continua fazendo', disse Archibald.

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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Paciente cria série de animação dentro do hospital



Paulo Henrique Machado, internado há 43 anos no HC, aprendeu a usar ferramentas de computação no próprio leito
Vítima de paralisia infantil e morando há mais de 40 anos em uma UTI do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Paulo Henrique Machado, 45, decidiu transformar suas aventuras em uma animação 3D.

Voltada para o público infantil, a série de desenhos "As Aventuras de Léca e Seus Amigos" mostra a infância de sete crianças com deficiência física. Léca, melhor amiga de Paulo, mora na cama ao lado.


Minha mãe morreu dois dias depois que eu nasci. Com um ano e meio, tive paralisia infantil. Vim para o Hospital das Clínicas sem movimento nas pernas e, com o tempo, a paralisia atingiu também meu sistema respiratório.

Desde então, dependo do aparelho de respiração artificial para continuar vivo.
Aqui no hospital, aprendi a ler e a escrever. Conclui o ensino médio e fiz vários outros cursos de informática e na área de softwares.
Lembro-me de quando era pivete, podia andar de cadeira de rodas pelo hospital e visitar meus amigos em outros quartos. Líamos historinhas infantis uns para os outros.
Minha capacidade de respiração foi piorando e eu já não podia mais sair da cama. Eu e mais seis amigos, todos com paralisia infantil, fomos transferidos para um quarto [só ele e Eliana Zagui sobreviveram]. Era uma gangue.
Eu e a Tânia éramos os líderes e discutíamos muito. O principal motivo era a televisão. Havia dois aparelhos e a gente ficava competindo pelo volume, pelos programas. Os meninos queriam futebol, as meninas, novela.

PIPAS PELA JANELA


Apesar de estarmos presos às camas, a gente inventava brincadeiras que estimulavam a imaginação.

Eu, o Pedro e o Anderson tínhamos movimentação nos braços [as meninas não tinham] e fazíamos pipas para brincar e para vender. O Anderson conseguia soltar da janela do quarto.

Era engraçado porque não ventava o suficiente. Quando a pipa estava quase subindo, caía. Era muita pipa perdida. Enganchavam nas árvores, ou eram pegas pelos meninos que já ficavam perto do hospital à espera delas. Sempre machucava a mão afiando o bambu com canivete.

Aqui no hospital tive muita oportunidade de fazer coisas que qualquer outra criança podia fazer lá fora, como armar arapucas para pegar passarinho no fundo do terraço. A diferença é aqui a gente só pegava pomba.

Um dia encontrei um gafanhoto e o amarrei com barbante. Fazia de conta que eu era o Pinóquio e ele o grilo falante. Também ganhava "presentes" dos funcionários.
Uma atendente me deu uns tatus-bolas. Outro médico que trabalhava aqui, o doutor Giovani, que eu chamava de pai [Paulo tem pai, mas que raramente o visita], me trouxe duas pererecas, aquelas que dão em rio.

Eu tentava pegar, e elas pulavam. Foi aquela histeria generalizada na UTI.

Em 1992, pensei o que poderia ter para produzir, criar alguma coisa. Foi quando escrevi uma carta para uma empresa pedindo a doação de um computador. Comecei a estudar informática sozinho. Era um modelo MSX, bem limitado. Em 1994, ganhei meu primeiro PC.
No início, era aterrorizador, eu vivia quebrando o computador. A coisa melhorou depois que os hospital deixou os técnicos de informática à disposição para me ajudar. Hoje eu monto computadores. Tenho meu segundo PC montado.

A partir de 2004, lutei, também sozinho, para me profissionalizar na área de 3D. Em 2011, achei que eu precisava de um curso para trabalhar com computação gráfica. Fui atrás do Senac, e o professor veio até o hospital.

Desde então, comecei a alimentar a esperança de um dia me envolver profissionalmente com a sétima arte. Adoro cinema, meu ídolo é Charles Chaplin (1889-1977).
histórias


Foi aí que pensei numa animação com deficientes físicos. Mas não sabia se isso despertaria o interesse das pessoas. Foi então vendo as animações com personagens deficientes feitas por um estúdio britânico de que eu gosto [Aardman Animations, especializado em animações stop-motion], que fez a "Fuga das Galinhas", que pensei estar no caminho certo.
Pensei que as minhas aventuras e dos meus amigos aqui dentro do hospital já dariam um bom roteiro para uma série animada.

Ao colocar as histórias das nossas vidas, minha ideia é que as crianças possam assistir e aprender que o deficiente, numa cadeira de rodas, não é tão diferente assim. As histórias também contam sobre passeios que fiz ao Playcenter, ao circo, por exemplo.
Já roteirizei cinco histórias. Meu objetivo é finalizar a primeira temporada com 13 roteiros. Cada episódio tem 12 minutos. Se o vento continuar soprando, outras temporadas virão. E se as pessoas gostarem, nada impede que um dia vire um longa metragem.

A ideia com o Catarse é que as pessoas compartilhem ideias sobre o projeto e deem uma força. Uma árvore para crescer precisa ser regada. A árvore em questão não é de uma só pessoa. A ideia foi minha, mas o projeto da animação pertence a todos.

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terça-feira, 21 de maio de 2013

Novo instrumento reduz tempo de aprendizado de braille


Por Elton Alisson
Agência FAPESP – A empresa Tece, fundada por uma bióloga que fez mestrado em Educação e atualmente realiza doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), desenvolveu uma nova versão de um instrumento de escrita manual para deficientes visuais – chamado reglete positiva – que diminui em 60% o tempo de aprendizado do sistema de escrita e leitura braille.
Apoiada pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, a empresa já iniciou a comercialização do produto no Brasil e tem planos de exportá-lo.
“Ao todo, o processo de desenvolvimento do produto e de testes em instituições que atendem pessoas com deficiência visual levou seis anos”, disse Aline Picolli Otalara, fundadora da empresa, à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisadora, a reglete convencional existe desde 1837, quando o francês Louis Braille (1809-1852) apresentou a primeira versão do instrumento, composto por duas placas de metal ou plástico, do tamanho de pequenas réguas escolares, fixas uma na outra por meio de uma dobradiça na lateral esquerda e com um espaço entre elas para permitir a introdução de uma folha de papel.
A placa superior possui diversos retângulos vazados, correspondentes aos espaços de escrita em braille (denominadas celas braille). Já a placa inferior tem celas braille com seis pontos côncavos (em baixo relevo) em cada uma delas.
Ao introduzir um instrumento (chamado punção) com uma ponta côncava dentro de cada retângulo vazado da placa superior da reglete, pressiona-se a folha de papel entre as duas placas contra os pontos côncavos dispostos na placa inferior para formar o símbolo braille correspondente às letras, números ou qualquer outro caractere que se deseja escrever. Com a folha virada do lado contrário ao que foi inserida na reglete, os deficientes visuais conseguem identificar, por meio da leitura tátil, os pontos em relevo formados pela pressão exercida pela punção na folha de papel.
Um dos problemas apresentados por esse dispositivo convencional, no entanto, é que, em razão de os pontos serem escritos em baixo relevo e a leitura ser realizada em alto relevo, a escrita é iniciada do lado direito e os caracteres são escritos espelhados de modo que, quando a folha é virada para a leitura (realizada da esquerda para direita), os caracteres estejam do lado correto.
Além disso, no Sistema Braille diversas letras são o reflexo invertido de outras. “Isso gera um esforço maior de quem está aprendendo o sistema braille, porque ele tem de aprender um alfabeto para ler e outro para escrever”, afirmou Otalara.
A fim de solucionar o problema, em 2007, por meio de um projeto apoiado pelo PIPE, a empresa fundada pela pesquisadora desenvolveu uma reglete esteticamente similar ao instrumento convencional, que possibilita escrever os pontos já em alto relevo.
Para isso, ao contrário da reglete convencional, a placa inferior do instrumento possui os seis pontos em cada cela braille na forma convexa (em alto relevo). Para marcá-los, a Tece desenvolveu um instrumento de punção similar a uma caneta sem ponta e com concavidade fechada que, ao ser pressionado sobre a folha de papel entre as duas placas da reglete, forma os pontos já em alto relevo.
Dessa forma, o usuário pode começar a escrever da esquerda para a direita, porque não é necessário virar a folha para ler o que foi escrito. Além disso, precisa aprender um único alfabeto tanto para ler como para escrever em braille.
“Nós desenvolvemos ao longo do projeto diversos protótipos do produto para avaliar alguns problemas técnicos causados por essa inversão na escrita braille”, disse Otalara.
Desafios
Um desses problemas técnicos, segundo a pesquisadora, é que os seis pontos em cada cela braille são muito próximos uns dos outros. Ao marcar um ponto convexo com a punção com a cavidade fechada para fazer um símbolo braille já em alto relevo, se formava um ponto “fantasma” que gerava dificuldade de leitura pelos deficientes visuais.
Na primeira fase do projeto, os pesquisadores da empresa criaram diversos protótipos, com diferentes distâncias entre os pontos, e realizaram uma série de testes de leitura dos textos escritos com o novo instrumento.
“O surgimento desses ‘pontos fantasmas’ foi o fator que tinha impedido, até então, o desenvolvimento desse material”, disse Otalara. “Todas as tentativas anteriores de desenvolver uma reglete que já escreve em alto relevo fracassaram porque não conseguiram superar essa etapa”, afirmou.
Curso na Unesp
Por meio de outro projeto, também com apoio do PIPE, a empresa realizou um curso de Sistema Braille para avaliar o tempo de aprendizado dos participantes por meio da reglete que desenvolveram.
O curso foi realizado com alunos do curso de licenciatura em pedagogia da Unesp de Rio Claro porque, de acordo com Otalara, era difícil encontrar alunos com deficiência visual que ainda não tivessem tido contato com a reglete comum. Por outro lado, os estudantes de pedagogia representam o maior público usuário desse tipo de material.
“Há um número muito maior de professores aprendendo Sistema Braille do que, de fato, deficientes cegos”, estima a pesquisadora.
Os pesquisadores constataram que, com a reglete que desenvolveram, foi possível reduzir em 60% o tempo de aprendizado do Sistema Braille pelos futuros educadores. Com isso, de acordo com Otalara, é possível diminuir o investimento em formação de professores, facilitar o aprendizado e aumentar o interesse do público, em geral, em aprender o Sistema Braille.
“Há uma impressão muito negativa sobre o Sistema Braille. As pessoas já imaginam que é difícil aprender e, quando viam que tinham de aprender a escrever ao contrário, o estigma, principalmente por parte de professores e crianças, aumentava ainda mais”, disse Otalara.
O produto foi batizado pela empresa de “reglete positiva”, porque, no ensino de braille, os pontos em baixo relevo, que não aparecem no momento da escrita, são chamados pontos negativos. Já os pontos em alto relevo – legíveis e sensíveis ao toque com a folha virada do lado contrário ao que os pontos foram marcados pela punção escrita – são chamados de pontos positivos.
Máquina de escrever em braille
Alguns dos resultados do projeto da reglete positiva serão utilizados pela empresa para desenvolver, também com apoio do PIPE, uma máquina de escrever em braille.
Muito utilizado por pessoas com deficiência visual tanto em sala de aula como no mercado de trabalho, o equipamento é relativamente caro – custa em torno de R$ 2 mil –, ainda não há nenhum fabricado no Brasil e sofreu poucas variações desde que foi criado.
A empresa brasileira pretende desenvolver uma versão nacional do produto, torná-lo mais viável economicamente e melhorar alguns aspectos técnicos, como peso e design, para diminuir o esforço do usuário para manuseá-lo e transportá-lo.
Para desenvolver o protótipo, a empresa fez uma parceria com o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, de Campinas, que possui um centro de prototipagem e um laboratório de tecnologia assistiva.
As seis teclas correspondentes aos pontos braille e o material impresso pelo equipamento seguirão o padrão da reglete positiva desenvolvida pela empresa.
Apesar de ser um pouco maior do que o utilizado na escrita em braille em baixo relevo (negativa), o novo padrão facilita a leitura tátil.
“Como os pontos são um pouco mais ‘gordinhos’, eles são mais parecidos com o braille impresso em livros”, comparou Otalara. “Por isso, são mais fáceis de serem lidos por meio da leitura tátil”, afirmou.
O desenvolvimento da reglete positiva resultou em um pedido de patente, que está em processo de avaliação. O produto é vendido no site da empresa – que possui recursos de navegação para pessoas com deficiência visual – e em lojas especializadas. 
 


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Grupo alemão SAP planeja contratar centenas de autistas no mundo


A gigante alemã SAP informou nesta terça-feira que pretende contratar nos próximos anos centenas de pessoas com autismo para trabalhar em programação ou em testes de software.
A SAP "vai trabalhar a nível mundial para empregar pessoas com autismo como testadores de softwares, programadores e especialistas em qualidade de dados", indicou o grupo em um comunicado.
O grupo acredita que esta iniciativa pode garantir uma vantagem competitiva graças aos "talentos" únicos dessas pessoas.
O objetivo do grupo é que, até 2020, os autistas representem 1% de seus quase 65 mil funcionários em todo o mundo, informou o porta-voz da SAP à AFP.
Isso corresponde mais ou menos a porcentagem da população mundial com autismo.
Por enquanto, o grupo tem apenas um pequeno grupo de trabalhadores autistas na Índia e Irlanda. Graças a uma parceria com a organização dinamarquesa Specialisterne, especializada no emprego de autistas, principalmente no setor de tecnologia, a SAP vai estender a sua contratação em 2013 para os Estados Unidos, Canadá e Alemanha.
Na Índia, a SAP informou que contratou seis pessoas com autismo que trabalham com testes de softwares. Isto tem "aumentado a produtividade da equipe e coesão em sectores-chave", ressaltou a SAP.
Na Irlanda, estão em processo de contratação cinco pessoas com esta deficiência.
"A SAP estará preparada para enfrentar os desafios do século XXI somente se contratar pessoas que pensam de forma diferente e provoquem a inovação", declara no comunicado Luisa Delgado, diretora de recurso0 humanos da SAP.
Na Alemanha, as empresas com mais de 20 trabalhadores são obrigadas a reservar 5% de sua força de trabalho para deficientes.

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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Homem que não se move e nem fala ‘escreve’ livro piscando os olhos



O ex-garçom Ailton Vilela, de 47 anos, não fala e nem se movimenta, mas isso não foi uma barreira para que ele “escrevesse” o livro “A Fabilidade dos Projetos Humanos”. A publicação foi possível porque a irmã e enfermeiras que cuidam dele buscaram um método para ajudá-lo a se comunicar com o piscar dos olhos, pois, conforme a letra que quer dizer, ele pisca. Assim, letra por letra, o livro foi feito.
Ailton vive em uma cama na casa dele. A imobilidade é consequência de uma esclerose, que ele descobriu ter aos 40 anos, logo depois que se casou. Desde então, Ailton teve uma mudança radical de vida. A doença rara foi se desenvolvendo e há cinco anos ele não se movimenta e depende de aparelhos para respirar. Também faz cinco anos que o filho dele, Samuel, nasceu. Como ele já estava nessa situação, o ex-garçom nunca conseguiu tocar no filho, o que lhe causa tristeza.

Apesar dos problemas físicos, Ailton não perdeu a memória. Sabendo disso, a irmã que cuida dele, Jackeline Vilela, e duas enfermeiras pensaram em como poderiam ajudá-lo a se expressar. Elas fizeram uma tabela com números e com todas as letras do alfabeto, dispostas em seis linhas e seis colunas. Conforme a quantia de vezes que ele pisca, ele indica a localização da letra que ele quer usar. Foi piscando letra por letra que ele escreveu as 89 páginas da obra “A Fabilidade dos Projetos Humanos”.
A publicação foi lançada no último dia 17 de maio, em Goiânia. A obra conta um pouco da vida de Ailton. “Através do livro ele explica como tudo começou e como foi a trajetória da doença. Ele quer passar uma mensagem de esperança. Embora ele esteja acamado, doente, ele não deixa de lutar”, declara a irmã de Ailton. Piscando, o próprio autor do livro reforçou o teor da mensagem: “Apesar de tudo, eu sou feliz e quero passar uma mensagem de esperança através do livro”.
A história do ex-garçom é exemplo para muitas pessoas. A enfermeira Eliane Mendes Ribeiro, que ajuda a cuidar dele, ressalta a força que Ailton possui para continuar a viver. “É uma pessoa iluminada por Deus. No estado em que ele se encontra, ele ainda encontra força pra escrever um livro e passar uma mensagem de fé e esperança pra gente”, declara.

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Abertas inscrições para cursos de libras - SEDUC GO


Prazo para pré-matrícula termina no dia 29 de maio
O Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), oferecerá os cursos “Noções Básicas de Línguas de Sinais” e “Formação Continuada para Professores de Atendimento Educacional Especializado (AEE)”. O período de pré-matrícula vai até o dia 29 de maio. Os cursos são gratuitos. 

Para se inscrever é preciso ser servidor efetivo da Educação ou de qualquer outro órgão estadual. Familiares de surdos também terão preferência nas vagas. A comunidade em geral interessada nos cursos deve ter, obrigatoriamente, o Ensino Médio completo. No ato da inscrição, os servidores estaduais devem apresentar cópia do cabeçalho do contracheque e os familiares de surdos precisam apresentar cópia da audiometria. 

As inscrições podem ser feitas na sede do CAS, situada à 6ª Avenida, esquina com Rua 217, Setor Leste Universitário. Os candidatos devem comparecer ao local munidos dos seguintes documentos (original e cópia): RG, CPF, comprovante de endereço e de escolaridade.

A lista dos selecionados será divulgada a partir do dia 10 de junho no blog do CAS(http://cascursolibrasgoias.blogspot.com.br/) e no mural da unidade de ensino. Eles terão até o dia 18 de junho para efetivarem a matrícula e para entregar toda a documentação necessária. Caso contrário, perderão o direito à vaga. No dia 19 de junho, será divulgada a 2ª chamada. 

Mais informações: 3201-7007.

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terça-feira, 14 de maio de 2013

Surfista Cego emociona compeão mundial


'Inspirador', diz americano hendecacampeão do circuito mundial, sobre sua participação no documentário que conta história do brasileiro Derek Rabelo


Aos 41 anos e com 11 títulos mundiais no currículo, Kelly Slater dificilmente ainda se surpreende no surfe. E foi um rapaz brasileiro, cego desde o nascimento, que proporcionou a ele uma das experiências mais impressionantes de sua vida. O americano é um dos surfistas que participam do documentário "Além da Visão", que conta a história de Derek Rabelo, de 20 anos. O filme teve os trailers exibidos nesta semana, durante o Rio Pro, terceira etapa do Circuito Mundial, que segue suspensa pela falta de ondas.

Slater surfou com Derek Rabelo em setembro do ano passado. Botou uma venda nos olhos e...

- Não consegui pegar nenhuma onda... - conta o americano, sobre o dia de gravações em Trestles, na Califórnia, onda que ele conhece como poucos.
Kelly Slater e o surfista cego Derek Rabelo (Foto: Reprodução/Além da Visão)Derek Rabelo e Kelly Slater em Trestles, na Califórnia (Foto: Reprodução/Além da Visão)
Slater não pôde comparecer aos eventos para divulgar o filme de Derek no Rio. Mas alguns  surfistas da elite mundial estiveram por lá. Entre eles, os irmãos gêmeos Damien e CJ Hobgood - CJ foi campeão mundial em 2001. Mick Fanning, Laird Hamilton, Mike Stewart, entre outros, também viraram fãs de Derek nos últimos meses. Inclusive, Derek Ho, havaiano campeão do mundo em 1994. Foi ele quem inspirou o nome do brasileiro.
Derek nasceu sem a visão - glaucoma congênito. Os pais, apaixonados por surfe, o batizaram em homenagem ao campeão mundial. E, aos 17 anos, o menino decidiu aprender a surfar. Hoje, faz parte da equipe de uma empresa de surfwear.
Surfe Kelly Slater, Mike Stewart e Derek Rabelo (Foto: Giuseppe Demasi / Divulgação)Bryan Jennings, Mike Stewart, Magno, Derek e Slater na gravação (Foto: Giuseppe Demasi / Divulgação)
A caminhada de Derek entre os melhores do mundo começou de fato em 2011, quando, levado pelo amigo bodyboarder Magno Passos, surfou Pipeline, a onda mais tradicional e uma das mais temidas do Circuito Mundial.
Derek Rabelo e CJ Hobgoob no Rio Pro (Foto:  Guilherme Macchi)Derek e CJ no Rio (Foto: Guilherme Macchi)

Foi então que Bruno Lemos e  Luiz Werneck decidiram criar o documentário. Bryan Jennings é o produtor do filme, que deve ser lançado no fim deste ano.

- É inspirador. Tenho muito respeito pelo que ele faz. Ele nunca viu. Só sente a onda. Surfe é uma atividade muito visual. É impressionante o que ele consegue - disse Slater.


Fonte:  http://globoesporte.globo.com/radicais/surfe/noticia/2013/05/sem-conseguir-surfar-de-olho-fechado-slater-se-emociona-com-surfista-cego.html
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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Casa acessível é segura para crianças, idosos e deficientes


Como ter uma casa que acolha com segurança e acessibilidade tanto às crianças, aos idosos e aos deficientes? A solução de um espaço acessível está no projeto que, ao ser idealizado por um arquiteto ou um designer de interiores, deve considerar as diversas etapas da vida de um ser humano e os variados tipos de usuários, sejam eles moradores ou visitantes, seja um bebê ou um idoso, sejam portadores de deficiência, com mobilidade reduzida ou não.
Todos têm direito a espaços adaptados e seguros. Segundo define a norma técnica 9050, da ABNT, a acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance, percepção e entendimento para o uso com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.  

A NT 9050 se baseianos conceitos do Desenho Universal, que estabelece parâmetros para o design e a arquitetura, de modo a garantir autonomia e segurança a mais pessoas. 
 
Adotado inicialmente pelos EUA, nos anos 1980, o Desenho Universal surgiu para atender as necessidades não só de cadeirantes, mas de todos aqueles que apresentam necessidades especiais como os deficientes visuais e intelectuais, assim como os idosos e os que usam muletas ou andador.
 
O Desenho Universal, expressão usada pela primeira vez pelo arquiteto americano Ron Mace, também considera os usuários com deficiência temporária e a diversidade humana e suas características antropométricas e sensoriais.
 
  • Divulgação
    Na área do box, as barras dão maior segurança ao morador
"Quando se executa um projeto com base no Desenho Universal, levamos em conta que o ser humano evolui ao longo da vida e suas necessidades e características mudam conforme a faixa etária", explica a arquiteta Daniela Velloza.
 
Espaços democráticos
Para que o espaço seja acessível e de uso abrangente, seu dimensionamento deve estar correto. Veja algumas funções que o projeto de arquitetura deve cumprir, segundo os conceitos do Desenho Universal:
 
- Permitir o acesso e uso confortáveis para os usuários, sentados ou em pé; 
- Possibilitar o alcance visual dos ambientes e produtos a todos os usuários, sentados ou em pé; 
- Acomodar variações ergonômicas, oferecendo condições de manuseio e contato para usuários com as mais variadas dificuldades de manipulação, toque e pegada; 
- Permitir a utilização dos espaços por pessoas com órteses, como cadeira de rodas, muletas, entre outras, de acordo com suas necessidades para atividades cotidianas. 
 
Projeto adequado
No projeto de arquitetura, vários itens de acessibilidade podem ser contemplados. Confira abaixo dicas dos profissionais Daniela Velloza, Robson Gonzales e da arquiteta do Instituto Brasil Acessível, Sandra Perito:
 
Arquitetura inclusiva
- 0,90 m é a largura mínima de corredores e portas de passagem
- 0,80 m é a largura mínima do vão de outras portas
- 0,80 x 1,20 m é o maior módulo referência pois comporta um cadeirante
- 1,50 x 1,20 m é a área necessária para a rotação de 180 graus de uma cadeira de rodas 
- Entre 0,60 m e 1,00 m do piso é a altura média de interruptores e comandos
- 0,50 cm é o desnível máximo permitido
- 0,60 m é a altura máxima para os peitoris de janelas

Decoração inclusiva
- Prefira mesas em geral sem quinas retas e que não sejam de materiais cortantes, evitando acidentes
- 0,73 m é a altura média de mesas de cozinha e/ou jantar
- Escolha sempre estofados e colchões firmes que facilitam a pessoa a se levantar
- 0,46 m é a altura média de camas e estofados
- Evite armários altos
- Use gabinetes com rodízio
- O fogão tipo cooktop permite cozinhar sentado
 
Banheiro para cadeirantes
- Para a instalação do vaso sanitário, consideram-se as áreas de transferência lateral, perpendicular e diagonal
- Instale as barras de apoio na lateral e no fundo do vaso sanitário que devem ter no mínimo 0,80 m de comprimento mínimo e a 0,75 m do piso acabado
- 1,5 cm é o desnível máximo permitido entre o piso do boxe e do restante do banheiro
- Aplique piso antiderrapante em todo o banheiro 
- Os módulos com rodízios embaixo da pia em vez de marcenaria facilitam a retirada, aumentando a  circulação de uma cadeira de rodas
 
Segurança
A arquiteta do Instituto Brasil Acessível, Sandra Perito, elenca alguns dispositivos e soluções que evitam ou alertam para possíveis acidentes:
 
Para crianças
- Use grade/telas nas janelas
- Instale corrimão com duas alturas para o alcance dos adultos e das crianças
- Não coloque mobiliário perto de janelas para evitar o efeito "escadinha"
- Utilize tapa-tomadas como as cantoneiras plásticas para as quinas de móveis
- Opte por corrediças com amortecedor para as gavetas
- Os armários e gavetas que guardem medicamentos, materiais de limpeza e os talheres devem ser fechados à chave 
 
Para idosos
- Coloque luminária de emergência e luz de balizamento nas áreas de circulação
- Instale sensor de presença nas luminárias em áreas de circulação noturna
- Os abajures devem ser acionados por interruptor
- Use os Interruptores com led
- O topo de degraus ou desníveis devem ter cor contrastante com o piso
- Coloque piso antiderrapante e eliminar o uso de tapetes
- Prefira o mobiliário robusto, pesado e sem quinas retas

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Menino autista gênio da física cotado para um dia levar Nobel


Jacob falava pouco, mas estava constantemente pensando em padrões matemáticos (Foto: BBC)

Aos 2 anos, médicos diziam que ele teria dificuldades para aprender a ler. Sete anos depois, americano Jacob Barnett entrava na universidade.


Aos dois anos de idade, o jovem americano Jacob Barnett foi diagnosticado com autismo, e o prognóstico era ruim: especialistas diziam a sua mãe que ele provavelmente não conseguiria aprender a ler ou sequer a amarrar seus sapatos.
Mas Jacob acabou indo muito além. Aos 14 anos, o adolescente estuda para obter seu mestrado em física quântica, e seus trabalhos em astrofísica foram vistos por um acadêmico da Universidade de Princeton como potenciais ganhadores de futuros prêmios Nobel.
O caminho trilhado, no entanto, nem sempre foi fácil. Kristine Barnett, mãe de Jacob, diz à BBC que, quando criança, ele quase não falava e ela tinha muitas dúvidas sobre a melhor forma de educá-lo.
"(Após ser diagnosticado), Jacob foi colocado em um programa especial (de aprendizagem). Com quase 4 anos de idade, ele fazia horas de terapia para tentar desenvolver suas habilidades e voltar a falar", relembra.
"Mas percebi que, fora da terapia, ele fazia coisas extraordinárias. Criava mapas no chão da sala, com cotonetes, de lugares em que havíamos estado. Recitava o alfabeto de trás para frente e falava quatro línguas".
Jacob diz ter poucas memórias dessa época, mas acha que o que estava representando com tudo isso eram padrões matemáticos. 'Para mim, eram pequenos padrões interessantes.'
Estrelas
Certa vez, Kristine levou Jacob para um passeio no campo, e os dois deitaram no capô do carro para observar as estrelas. Foi um momento impactante para ele.
Meses depois, em uma visita a um planetário local, um professor perguntou à plateia coisas relacionadas a tamanhos de planetas e às luas que gravitavam ao redor. Para a surpresa de Kristine, o pequeno Jacob, com 4 anos incompletos, levantou a mão para responder. Foi quando teve certeza de que seu filho tinha uma inteligência fora do comum.
Alguns especialistas dizem, hoje, que o QI do jovem é superior ao de Albert Einstein.
Jacob começou a desenvolver teorias sobre astrofísica aos 9 anos. No livro The Spark (A Faísca, em tradução livre), que narra a história de Jacob, ela conta que buscou aconselhamento de um famoso astrofísico do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que disse a ela que as teorias do filho eram não apenas originais como também poderiam colocá-lo na fila por um prêmio Nobel.
Dois anos depois, quando Jacob estava com 11 anos, ele entrou na universidade, onde faz pesquisas avançadas em física quântica.
Questionada pela BBC que conselhos daria a pais de crianças autistas - considerando que nem todas serão especialistas em física quântica -, Kristine diz acreditar que "toda criança tem algum dom especial, a despeito de suas diferenças".
"No caso de Jacob, precisamos encontrar isso e nos sintonizar nisso. (O que sugiro) é cercar as crianças de coisas que elas gostem, seja isso artes ou música, por exemplo".
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sábado, 11 de maio de 2013

Ser mãe não é profissão...


O grande dilema do século XXI – cuidar dos filhos  ou da carreira – impõe às mulheres uma nova postura, mais forte e exigente

Ana Claudia Fonseca e Bruna Rodrigues
Ana Vitale
Inaê, de 35 anos, com o filho de 1 ano e meio, grávida
de oito meses: ela decidiu não tirar licença-maternidade
para não perder espaço no trabalho
A ativista Margaret Sanger (1879-1966), pioneira do direito feminino de evitar filhos, uma das mães da pílula anticoncepcional (veja reportagem),criou a Liga Americana de Controle da Natalidade, em 1921, ancorada em uma máxima que repetia com assiduidade: "Nossas meninas precisam entender que a maternidade é a mais sagrada das profissões do mundo, e é uma profissão que exige mais preparação do que qualquer outra destinada às mulheres". Ser mãe, hoje como antes, dá trabalho – e quase sempre em dupla jornada –, mas a metáfora do início do século XX envelheceu, e toda mulher sabe que profissão é outra coisa, é um emprego como o que os homens podem ter. A frase de Sanger, inspiradora em seu tempo, em 2010 é quase uma aberração. Atualmente, maternidade e trabalho profissional são expressões que costumam colidir. É um dos grandes dilemas de nosso tempo, a dura opção entre a maternidade e a carreira.

É possível compreendê-lo por meio de estatísticas. Um estudo da FEA-USP mostra que trabalhadoras com filhos pequenos têm em média, no Brasil, salário 27% menor que o de suas colegas sem filhos. "Apesar de todos os avanços dos últimos anos, as mulheres continuam sendo o maior objeto de preconceito nas empresas brasileiras, seguidas pelos idosos e por menores de 25 anos", diz Hermano Roberto Thiry-Cherques, coordenador do núcleo de Ética nas Organizações da FGV-RJ.

Há imensas dores do parto para a mãe que trabalha – é forte a cobrança, pública e privada, para cuidar do filho e do emprego ao mesmo tempo e de igual maneira, algo que não é pedido aos homens. Há excelentes profissionais que não são bons pais – e pais dedicados que não são bons profissionais. Mulheres nessas condições costumam ser empurradas para o ostracismo social.
Mulheres sem crianças nas grandes empresas dos Estados Unidos ganham quase o mesmo que os homens em posições similares. As mães com companheiro ganham um pouco menos. As mães solteiras, muito menos. Convém ressaltar que parte da razão do fosso – que diminui, porque muitas mulheres já ganham o mesmo que os homens em posições idênticas – é o avesso do preconceito de gênero. As mulheres costumam ser julgadas pelo mesmo padrão com o qual se mede a postura masculina, e, nunca é tarde para lembrar, mães engravidam – pais, não. Talvez fosse melhor ter critérios diferentes para um e outro grupo.

Há um paradoxo instalado. A vitoriosa revolução sexual feminina, que lutou por igualdade de direitos, pode involuntariamente ter barrado o acesso das mulheres ao trabalho – pelo simples fato de que elas são biologicamente diferentes dos homens, especialmente porque concebem. O resultado: em muitos países, mesmo nos mais liberais e democráticos, as mulheres rejeitam a maternidade. Na Suíça, 40% delas não têm filhos. As que não rejeitam, adiam a maternidade, com a ajuda da medicina. Mas nem isso resolve o grande nó a desatar. Um estudo da Universidade de Chicago mostra que, dez anos depois da graduação, apenas metade das mulheres que cursaram MBA ainda trabalha em período integral. Outro levantamento americano, este com mulheres que deixaram o trabalho depois da gravidez, indica que apenas 7% delas demonstraram vontade de voltar ao batente – 74% realmente voltaram, mas apenas 40% continuaram com emprego de dia inteiro.

Adiar a maternidade não resolve. Outra contradição deste início de século XXI complica a busca por isonomia dos gêneros. As mulheres estudam mais que os homens, ocupam mais assentos em universidades (veja o quadro),mas não se nota esse benefício nos salários quando avançam na carreira e envelhecem. Levantamento da Cranfield University School of Management, da Inglaterra, traz um detalhe incômodo. Na faixa dos 20 anos, a diferença salarial entre homens e mulheres, no mundo ocidental rico, é de apenas 6%. Com o passar do tempo, a distância aumenta para 21%. Ou seja: a mulher ganha menos quando fica mais velha, e ganha menos ainda ao associar a profissão com a maternidade. Dá-se a diferença, segundo o estudo, "quando a mulher fica grávida, mas também na primeira infância". O afastamento compulsório, por imposição da maternidade, aparta as mulheres dos cursos, das horas de trabalho, dos bônus salariais.

É fundamental, na compreensão dessa discrepância no bolso, distinguir discriminação de desigualdade salarial. A discriminação ocorre quando a 
mulher é forçada a receber salário inferior em posto igual ao de um homem, o que é proibido por lei. A desigualdade salarial é um problema mais complexo porque tem causas diversas e sutis.

A maioria dos empregos de meio período é feminina. Na Espanha, segundo a Fundação Mulheres, o mercado de trabalho oferece 30% menos benefícios às mulheres que aos homens. Um exemplo: a Iberia, companhia de aviação, concede prêmios por horas de voo, horas que não são amealhadas por grávidas, impossibilitadas de voar. "Uma mulher de 40 anos com dois filhos estará dois patamares abaixo em relação a homens que não tenham interrompido a carreira", disse Marisa Sotelo, da Mulheres, ao jornal El País."As horas de voo parecem um critério objetivo, mas seu resultado não é."

Não é o caso de afirmar, por estar distante da realidade, que a revolução feminina tenha sido derrotada por um desiderato biológico. O que brota são iniciativas, de governos e empresas, que começam a permitir que mães trabalhem como pais. Aumenta o número de creches. Em quase todo o mundo, o tempo de licença-maternidade cresce (no Brasil, as empresas já podem aderir à de 180 dias). O trabalho em casa (não o doméstico) aumenta. Mais de 90% das empresas da Alemanha e da Suécia têm horários flexíveis. Empresas tentam calcular como pagar a ausência da mulher, nos meses de gravidez e aleitamento, de modo a não prejudicá-las. É um movimento que muda tudo.

Já há alguns anos se ensaia essa nova sociedade de novíssimos personagens. A paulista Inaê Cavalcanti Marcondes Machado, de 35 anos, é dermatologista, diretora de uma clínica especializada em recuperação capilar. Inaê é mãe de um menino de 1 ano e meio, tem um enteado de 5 anos, cuja guarda é compartilhada pelo marido e por sua ex-esposa, e está grávida de oito meses. Casada com um bem-sucedido empresário do ramo de exportações, atribui a chance de não enlouquecer com a jornada dupla aos avanços sociais das últimas décadas. "Meu marido está sempre presente, troca fraldas, lava a louça, só não faz o que biologicamente lhe é impossível", diz.


Mas é, na opinião dela, ainda apenas uma "abertura promissora", o início de uma mudança definitiva. Como promessas não passam disso mesmo, e a grande transformação apenas agora toma corpo, Inaê decidiu não tirar licença-maternidade, legítimo direito. "O mercado é muito competitivo, eu perderia espaço se ficasse muito tempo fora", diz ela, com a convicção de que homens não têm esse problema. "Embora tenham outros", resume – e muitos deles se devam ao excesso de testosterona, a matriz da competitividade exagerada. A médica entende, pelo cotidiano de seu trabalho, de contato direto com as pessoas, que as mulheres conquistaram espaço em razão de uma monumental e silenciosa mudança: atributos fundamentalmente femininos, como empatia e atenção, antes desconsiderados no trabalho, desvalorizados, hoje valem ouro. "Somos mais associativas", diz.

Patricia Nogueira, de 33 anos, mãe de um menino de 3 e grávida do segundo filho, gerente de marcas de produtos de higiene da Dove para a América Latina, conta que, antes de dar aos pais a boa notícia da primeira gestação, teve o cuidado de avisar o chefe. "Como não poderia viajar até completar três meses de gravidez, e como não queria perder espaço, tomei esse cuidado", lembra. Agora com dois filhos, ela também sabe que precisará dividir a maternidade com o marido, Alexandre. "Não sou polvo, com oito mãos, então o papel dele será essencial." Às vezes, o coração de executiva aperta, principalmente ao ouvir Diego perguntar por que ela não chega mais cedo em casa. A resposta: "Mamãe vai trabalhar porque isso me deixa mais feliz". Nos anos 1960, uma frase dessas soaria cruel. Não é.
Paulo Vitale
Patricia, com o filho de 3 anos, grávida de sete meses.
O chefe ficou sabendo da gravidez antes dos avós

E, no entanto, a grande indagação permanece: onde deixar os filhos? Eis a dificuldade quase intransponível, mesmo para quem tem dinheiro e pode contratar babás e serviços de creches. Quem não pode contar com uma rede de auxílio do governo – muito comum na Europa, por exemplo – precisa pensar em um plano B. Como a crise econômica atingiu mais duramente os setores tradicionalmente masculinos, como a indústria automobilística e a construção civil, as mulheres – no exterior, mas também no Brasil – estão cada vez mais assumindo o papel de chefe de família (são 34,9% no Brasil), desafiando o status do homem como provedor. Criou-se, portanto, um novo personagem: o dono de casa. Só na Inglaterra, há cerca de 200 000 homens cuidando dos filhos e das tarefas domésticas, enquanto a esposa bate cartão de ponto na empresa. Rob Williams, diretor do Fatherhood Institute, uma organização britânica voltada aos pais que optaram por ser mãe, diz que desde 1970 aumenta o número de homens que preferem limpar o lar a passar horas dentro do escritório. "A ideia de que os homens são provedores exclusivos entra, aos poucos, em colapso", diz Williams.

O paulista António Morey, de 55 anos, é dessa turma. Desde que perdeu o emprego em uma multinacional, há sete anos, vem assumindo todas as funções de uma dona de casa: lava, passa, faz a feira e a faxina, e ainda cozinha. A mulher, Regina, trabalha em uma empresa de administração de imóveis. Ele garante que não se arrepende da decisão, mas admite que foi difícil aceitar a nova rotina – e ser aceito pelos ex-colegas. "É complicado para a autoestima trocar de papel com a mulher", diz. "Tenho muitos amigos que estão na mesma situação econômica, mas que, por machismo ou orgulho, preferem não falar a respeito." Para derrubar o tabu, ele escreveu o livro Afinal, Quem Está no Comando?, sobre as agruras de um recém-desempregado obrigado a assumir as tarefas domésticas para não diminuir muito o padrão de vida da família. "Não há do que se envergonhar, as mulheres desempenharam essas tarefas durante séculos, agora é a nossa vez."
Lailson Santos
António Morey, o dono de casa: "É complicado para a autoestima trocar de papel
com a mulher"

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terça-feira, 7 de maio de 2013

Mãe de coração, mulher adota quatro crianças deficientes no RN

Depois de quatro filhos biológicos, a funcionária pública Lana Cristina Ribeiro de Araújo, de 53 anos, deu início ao que ela chama de "partos do coração". Até agora seis, todos de crianças encontradas em situações de risco, com problemas de saúde ou algum tipo de deficiência. As adoções ocorreram em um intervalo de 18 anos, entre 1992 e 2010. “Às vezes perguntam se eu tenho uma creche. Não, são todos meus filhos. Não nasceram do meu ventre, mas nasceram do meu coração”, diz Lana, que não contém as lágrimas ao contar a história de cada um deles. A pouco menos de uma semana do Dia das Mães, ela é a prova do quão grande pode ser o amor materno.

Gessica, 24 anos, Gean, 11, Gabriela, 11, Gabriel, 11, Giovana, 10, e Guilherme, 3, tiveram histórias de vida difíceis, mas que ganharam um enredo de amor ao encontrar Lana. Todos com o nome iniciado pela letra G, como quis o pai Gediel Ribeiro de Araújo, de 60 anos, reservista da Aeronáutica que deu sequência à tradição iniciada com os filhos biológicos Gediel Júnior, Gedielson, Gediendson e Gedilana. Se o nome não começava com G, o pai fazia questão de mudar. Jéssica, por exemplo, virou Gessica. O menino João Maria virou Gean. E assim foi com todos os demais filhos adotivos.

Na casa de quatro quartos, em Parnamirim, na Grande Natal, moram cinco dos seis filhos adotivos. Com excessão de Gessica, os demais continuam sob a asa da mãe. Quatro deles possuem algum tipo de deficiência. Os que requerem mais cuidados são Gean e Guilherme. Acometido por uma paralisia cerebral desde o nascimento e com grandes limitações para se movimentar, Gean vive em uma cadeira de rodas e não fala. O acompanhamento médico tem de ser constante para evitar complicações na saúde do garoto.
Já o integrante mais novo da família, Guilherme, sofre de síndrome de Moebius, um distúrbio neurológico que ataca o desenvolvimento dos nervos e afeta principalmente as expressões faciais. Nada que impeça o menino de correr e brincar o tempo inteiro. A entrevista foi interrompida algumas vezes para chamar a atenção de 'Gui', como é carinhosamente chamado. Além deles, Gabriela nasceu com uma má formação na mão direita, e Giovana teve sequelas de um atropelamento sofrido antes da adoção.
Lana costuma dizer que a porta de seu coração foi aberta por Gessica, primeira filha adotada, na época que o casal morava em São Paulo, em 1992. Dez anos depois, já no Rio Grande do Norte, vieram os outros cinco, que garantem um dia a dia corrido. "Para muita gente nós não temos juízo (risos). Mas me sinto uma mãe realizada e abençoada. Se você não pode ser mãe do ventre, você pode ser de coração'', afirma.

Crianças tiveram passado difícil
Lana conta que encontrou Gean na creche Menino Jesus, para onde foi depois de ser entregue ao conselho tutelar pela família biológica. “Ele passava mais tempo internado no Hospital Infantil Varela Santiago do que no abrigo”, lembra Lana. Mesmo sabendo das limitações e dos cuidados necessários para cuidar de Gean, a mãe não titubeou em adotar o garoto.
A mãe relata que as dificuldades eram grandes no começo, porém desde que conseguiram incluir o Home Care – serviço de acompanhamento clínico fora do hospital – no plano de saúde, a situação melhorou. “Tem a dificuldade, o trabalho e o gasto, mas não importa. Gean é nosso filho e vamos brigar com ele”, reforça a funcionária pública.
Com acompanhamento especializado dentro de casa, o garoto pode crescer junto da família e se desenvolver, mesmo dentro de suas limitações. Para alegria da mãe. “Hoje ele se mexe e responde a alguns estímulos”, conta. Adotado em 2003, quando tinha menos de um ano de vida, Gean veio do mesmo abrigo de Gabriel e Gabriela.
Lana conta que Gabriel sofria de pneumonia crônica. Quando o viu, foi amor à primeira vista, confessa. “Quando peguei o Gabriel, disse logo que era meu. Fui impedida de entrar no hospital quando ele estava internado porque não era a mãe biológica. Lá mesmo falei ‘só saio daqui com meu filho’”, recorda.
Gabriel entrou na família aos cinco meses, em 2002, pouco depois de Gabriela, que virou uma Ribeiro de Araújo aos dois meses. A menina nasceu com uma má formação na mão direita, na qual só tem dois dedos. “A assistente social me mostrou a foto dela e decidi adotá-la”.
Seis anos depois, em 2008, foi a vez de Giovana, que tinha seis anos quando foi adotada. Atropelada por um ônibus aos dois anos de idade, ela passou um ano internada no Hospital Maria Alice Fernandes. Em decorrência do acidente, perdeu um rim e teve problemas nas pernas e no pé. Os pais biológicos perderam a guarda da filha, que foi encontrada por Lana na Casa de Passagem I. Com sorriso estampado no rosto durante a entrevista da mãe, Giovana diz: “daria todo o meu amor pra ela”.

Novos filhos? Por enquanto não
Ao ser perguntada se adotaria mais algum filho, Lana acha que a família está de bom tamanho, mas reluta. ''Não vou dizer que dessa água não beberei (risos), mas já avisei a Deus que está bom'', diz. O marido Gediel confessa que é apertado manter a família, porém com ajuda o casal não deixa faltar nada em casa. ''Além dos nossos salários, os meninos recebem bolsa de estudos na escola e ganhamos algumas doações de roupa. Dá para se virar'', garante.
Gediel, por sinal, tem que se virar para cuidar das crianças quando Lana está ausente. ''Quando preciso ficar no hospital com Gean, o pai cuida da casa, faz supermercado e leva as crianças na escola'', conta.

O casal Lana e Gediel se conheceu no interior de São Paulo, na cidade de Lorena. Gediel fazia um curso da escola de sargentos da Aeronáutica quando conheceu a paulista Lana numa reunião evangélica. Depois de morar em outras cidades do país, o casal fixou residência no RN.
Para os dois, todo o esforço é válido para dar um futuro digno às crianças. A primeira filha adotiva, Gessica, já casada e com filho, deixa o casal orgulhoso. "É formada em jornalismo e trabalha em uma companhia aérea, o que rende até alguns descontos na hora de viajar", brinca o pai. Lana acredita que assim como os mais filhos mais velhos, os mais novos também seguirão um caminho de sucesso na vida. ''Que eles sejam homens e mulheres de bem'', deseja a mãe.


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