Depois de quatro filhos biológicos, a funcionária pública Lana Cristina Ribeiro de Araújo, de 53 anos, deu início ao que ela chama de "partos do coração". Até agora seis, todos de crianças encontradas em situações de risco, com problemas de saúde ou algum tipo de deficiência. As adoções ocorreram em um intervalo de 18 anos, entre 1992 e 2010. “Às vezes perguntam se eu tenho uma creche. Não, são todos meus filhos. Não nasceram do meu ventre, mas nasceram do meu coração”, diz Lana, que não contém as lágrimas ao contar a história de cada um deles. A pouco menos de uma semana do Dia das Mães, ela é a prova do quão grande pode ser o amor materno.
Gessica, 24 anos, Gean, 11, Gabriela, 11,
Gabriel, 11, Giovana, 10, e Guilherme, 3, tiveram histórias de vida difíceis,
mas que ganharam um enredo de amor ao encontrar Lana. Todos com o nome iniciado
pela letra G, como quis o pai Gediel Ribeiro de Araújo, de 60 anos, reservista
da Aeronáutica que deu sequência à tradição iniciada com os filhos biológicos
Gediel Júnior, Gedielson, Gediendson e Gedilana. Se o nome não começava com G,
o pai fazia questão de mudar. Jéssica, por exemplo, virou Gessica. O menino João
Maria virou Gean. E assim foi com todos os demais filhos adotivos.
Na casa de quatro quartos, em Parnamirim, na Grande Natal, moram cinco dos seis filhos
adotivos. Com excessão de Gessica, os demais continuam sob a asa da mãe. Quatro
deles possuem algum tipo de deficiência. Os que requerem mais cuidados são Gean
e Guilherme. Acometido por uma paralisia cerebral desde o nascimento e com
grandes limitações para se movimentar, Gean vive em uma cadeira de rodas e não
fala. O acompanhamento médico tem de ser constante para evitar complicações na
saúde do garoto.
Já o integrante mais novo da família, Guilherme, sofre de
síndrome de Moebius, um distúrbio neurológico que ataca o desenvolvimento dos
nervos e afeta principalmente as expressões faciais. Nada que impeça o menino
de correr e brincar o tempo inteiro. A entrevista foi interrompida algumas vezes
para chamar a atenção de 'Gui', como é carinhosamente chamado. Além deles,
Gabriela nasceu com uma má formação na mão direita, e Giovana teve sequelas de
um atropelamento sofrido antes da adoção.
Lana costuma dizer que a porta de seu coração foi aberta por
Gessica, primeira filha adotada, na época que o casal morava em São Paulo, em
1992. Dez anos depois, já no Rio Grande do Norte, vieram os outros cinco, que
garantem um dia a dia corrido. "Para muita gente nós não temos juízo
(risos). Mas me sinto uma mãe realizada e abençoada. Se você não pode ser mãe
do ventre, você pode ser de coração'', afirma.
Crianças
tiveram passado difícil
Lana conta que encontrou Gean na creche Menino Jesus, para onde foi depois de ser entregue ao conselho tutelar pela família biológica. “Ele passava mais tempo internado no Hospital Infantil Varela Santiago do que no abrigo”, lembra Lana. Mesmo sabendo das limitações e dos cuidados necessários para cuidar de Gean, a mãe não titubeou em adotar o garoto.
Lana conta que encontrou Gean na creche Menino Jesus, para onde foi depois de ser entregue ao conselho tutelar pela família biológica. “Ele passava mais tempo internado no Hospital Infantil Varela Santiago do que no abrigo”, lembra Lana. Mesmo sabendo das limitações e dos cuidados necessários para cuidar de Gean, a mãe não titubeou em adotar o garoto.
A mãe relata que as dificuldades eram grandes no começo, porém
desde que conseguiram incluir o Home Care – serviço de acompanhamento clínico
fora do hospital – no plano de saúde, a situação melhorou. “Tem a dificuldade,
o trabalho e o gasto, mas não importa. Gean é nosso filho e vamos brigar com
ele”, reforça a funcionária pública.
Com
acompanhamento especializado dentro de casa, o garoto pode crescer junto da
família e se desenvolver, mesmo dentro de suas limitações. Para alegria da mãe.
“Hoje ele se mexe e responde a alguns estímulos”, conta. Adotado em 2003,
quando tinha menos de um ano de vida, Gean veio do mesmo abrigo de Gabriel e
Gabriela.
Lana
conta que Gabriel sofria de pneumonia crônica. Quando o viu, foi amor à
primeira vista, confessa. “Quando peguei o Gabriel, disse logo que era meu. Fui
impedida de entrar no hospital quando ele estava internado porque não era a mãe
biológica. Lá mesmo falei ‘só saio daqui com meu filho’”, recorda.
Gabriel
entrou na família aos cinco meses, em 2002, pouco depois de Gabriela, que virou
uma Ribeiro de Araújo aos dois meses. A menina nasceu com uma má formação na
mão direita, na qual só tem dois dedos. “A assistente social me mostrou a foto
dela e decidi adotá-la”.
Seis
anos depois, em 2008, foi a vez de Giovana, que tinha seis anos quando foi
adotada. Atropelada por um ônibus aos dois anos de idade, ela passou um ano
internada no Hospital Maria Alice Fernandes. Em decorrência do acidente, perdeu
um rim e teve problemas nas pernas e no pé. Os pais biológicos perderam a
guarda da filha, que foi encontrada por Lana na Casa de Passagem I. Com sorriso
estampado no rosto durante a entrevista da mãe, Giovana diz: “daria todo o meu
amor pra ela”.
Novos filhos? Por enquanto não
Ao ser perguntada se adotaria mais algum filho, Lana acha que a família está de bom tamanho, mas reluta. ''Não vou dizer que dessa água não beberei (risos), mas já avisei a Deus que está bom'', diz. O marido Gediel confessa que é apertado manter a família, porém com ajuda o casal não deixa faltar nada em casa. ''Além dos nossos salários, os meninos recebem bolsa de estudos na escola e ganhamos algumas doações de roupa. Dá para se virar'', garante.
Ao ser perguntada se adotaria mais algum filho, Lana acha que a família está de bom tamanho, mas reluta. ''Não vou dizer que dessa água não beberei (risos), mas já avisei a Deus que está bom'', diz. O marido Gediel confessa que é apertado manter a família, porém com ajuda o casal não deixa faltar nada em casa. ''Além dos nossos salários, os meninos recebem bolsa de estudos na escola e ganhamos algumas doações de roupa. Dá para se virar'', garante.
Gediel,
por sinal, tem que se virar para cuidar das crianças quando Lana está ausente.
''Quando preciso ficar no hospital com Gean, o pai cuida da casa, faz
supermercado e leva as crianças na escola'', conta.
O casal Lana e Gediel se conheceu no interior de São Paulo, na cidade de Lorena. Gediel fazia um curso da escola de sargentos da Aeronáutica quando conheceu a paulista Lana numa reunião evangélica. Depois de morar em outras cidades do país, o casal fixou residência no RN.
O casal Lana e Gediel se conheceu no interior de São Paulo, na cidade de Lorena. Gediel fazia um curso da escola de sargentos da Aeronáutica quando conheceu a paulista Lana numa reunião evangélica. Depois de morar em outras cidades do país, o casal fixou residência no RN.
Para
os dois, todo o esforço é válido para dar um futuro digno às crianças. A
primeira filha adotiva, Gessica, já casada e com filho, deixa o casal
orgulhoso. "É formada em jornalismo e trabalha em uma companhia aérea, o
que rende até alguns descontos na hora de viajar", brinca o pai. Lana
acredita que assim como os mais filhos mais velhos, os mais novos também
seguirão um caminho de sucesso na vida. ''Que eles sejam homens e mulheres de
bem'', deseja a mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário