Por Vinicius Gaspar Garcia
Desde os tempos remotos da nossa história, pessoas com diferentes
níveis de limitação física, sensorial ou cognitiva buscaram formas de
ocupação e trabalho. Trata-se de uma obviedade, mas é preciso dizer que
sempre existiram, independentemente da época ou do país/região, pessoas
com algum tipo de deficiência, seja na Grécia antiga, nos feudos da
Idade Média, na França do século XVIII ou no Brasil em 2010. Ou seja,
por mais que a questão da deficiência pareça ser um tema relativamente
novo (e de fato é), um primeiro aspecto que deve ser levado em conta
nessa discussão é a percepção de que a história deste grupo populacional
não começou nas últimas décadas.
Entretanto, é legitimo argumentar que, ao longo da história, vem se
modificando o “status social” destas pessoas. Da eliminação sumária ao
nascer na História Antiga e mesmo depois do cristianismo, passando pelas
experiências “científicas” de Hitler na Alemanha nazista já no século
XX, percorremos um longo (e por vezes “invisível”) caminho para superar
adjetivos como “inválidos”, “inúteis” e “excepcionais”. Hoje, apesar das
mazelas sociais que milhões de pessoas com deficiência enfrentam no seu
dia-a-dia, somos pessoas, somos cidadãos.
Colaborou decisivamente para isso o “Ano Internacional da Pessoa
Deficiente”, definido pelas Nações Unidas em 1981. A partir daí,
particularmente no Brasil, o grupo de pessoas com deficiência, assim
como ocorre para outros segmentos populacionais historicamente
discriminados, começou a identificar afinidades e direitos coletivos,
organizando-se politicamente. Este caminhar leva à Constituição de 1988,
onde estão definidos uma série de direitos relativos ao trabalho,
educação e assistência social para os “portadores de deficiência”.
Entre 1988 e 2010, várias legislações foram elaboradas ou
regulamentadas. A reserva de vagas nos concursos públicos, as cotas no
mercado de trabalho, isenções fiscais, o benefício de prestação
continuada (BPC) e as normas de acessibilidade são exemplos do nosso
relativamente avançado arcabouço jurídico sobre este tema. Mais
recentemente, o país internalizou e ratificou com força de emenda
constitucional a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, instrumento fundamental na garantia de direitos e como
parâmetro para revisão e aperfeiçoamento das leis nacionais.
Mesmo com esses avanços – tanto na história com a mudança de
paradigma que “nos permitiu” ser cidadãos, como no campo jurídico com
leis e Decretos que estabeleceram direitos – a participação no mercado
formal de trabalho das pessoas com deficiência ainda é muito restrita.
Quando se realizam estimativas, nas quais se adota critérios restritivos
a partir dos dados do Censo de 2000, apenas algo em torno de 10% das
pessoas com deficiência, em idade produtiva, estão no mercado de
trabalho formal. Este percentual indica que um número muito elevado de
pessoas com limitações físicas, sensoriais e cognitivas continua
exercendo atividades informais, precárias e descontínuas, ou
simplesmente não possui ocupação, vivendo com base em aposentadorias,
pensões e/ou com o suporte familiar.
A reversão desse quadro não é tarefa simples. Em nossa opinião, isso
exigiria ações em, pelo menos, cinco aspectos centrais: a) a ampliação
do conhecimento público acerca das pessoas com deficiência e sua
inserção no trabalho (com melhora no acesso aos dados do IBGE e do
Ministério do Trabalho e Emprego; b) as questões ligadas à legislação
(não só em relação à chamada “Lei de Cotas”, mas também à legislação
trabalhista/previdenciária; c) o fortalecimento da inclusão escolar e
das possibilidades de qualificação profissional, inclusive dentro das
empresas; d) a acessibilidade como conceito-síntese da sociedade
inclusiva; e) a consolidação de novos paradigmas e formas de pensar a
temática da deficiência, na sociedade em geral, mas especialmente entre
os empregadores (empresários ou gestores públicos) e as próprias pessoas
com deficiência.
Além de tudo isso, é preciso que as condições econômicas e sociais do
país evoluam positivamente. O crescimento econômico acelerado, uma
melhor distribuição de renda, serviços públicos com qualidade e
programas sociais eficazes, dentre outros aspectos, são benéficos para
todos, inclusive, naturalmente, para aqueles com algum tipo de
deficiência. Por mais que existam especificidades, não há um mundo
“específico” das pessoas com deficiência. Elas também sentirão os
efeitos da melhora social mais geral, por isso que as políticas
específicas – gratuidades, cotas, isenções, benefícios, etc. – não podem
ser um fim em si mesmo, mas parte de uma estratégia mais ampla na qual,
equiparando oportunidades, todos possam construir um país melhor, mais
justo e humano.
* Resumo da Tese de Doutorado: Pessoas com Deficiência e o Mercado de Trabalho: Histórico e o Contexto Contemporâneo, apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP por Vinicius Gaspar Garcia, em dezembro 2010.
Fonte: http://www.inclusive.org.br/?p=18374
Educar é colaborar para que professores e alunos transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem, na construção do saber, de sua identidade e em seu caminho pessoal e profissional. É preciso encontrar espaços sociais e profissionais para nos tornarmos realizados e produtivos. Existe um grande leque de opções metodológicas e possibilidades de organizar esta comunicação, cabe a nós integrar e adequar as tecnologias e procedimentos metodológicos em favor do aprendizado.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
O acesso das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho
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