Quando conhecemos alguém com deficiência, normalmente, nossas primeiras
impressões são canalizadas unicamente nas limitações e privações que
imaginamos que o nosso novo conhecido deve ter.
É comum as
pessoas pararem para pensar como deve ser o mundo sem poder ver as
coisas: o jogo de futebol, as cores, o rapaz ou a menina bonita, o
pôr-do-sol, o rosto dos amigos e familiares.
Como será passar a
vida sem poder correr, sem poder jogar bola, sem poder em alguns casos
pegar sozinho o filho no colo? Viver sem ouvir as músicas e os diversos
sons das pessoas e do planeta?
Como deve ser uma vida com dificuldade de compreensão? Como deve ser difícil ser tão diferente?
Pensamos
tudo isso enquanto o tempo passa. E o tempo passa e a gente descobre
pouco a pouco algumas coisas que eram inimagináveis para nós.
Descobrimos
que o rapaz cego costuma correr com os amigos, algumas vezes até
compete, já fez rapel, nada, voa de paraglider. Descobrimos que o
cadeirante trabalha, faz teatro, se apaixona, sorri; Descobrimos que o
surdo dança, viaja, se diverte, se comunica; Descobrimos que as pessoas
com deficiência intelectual passeiam, vão ao shopping, namoram.
E
quase sem percebermos, aquelas pessoas que nos causavam embaraço até
para pensarmos nelas, passamos a vê-las quase como super-heróis. Que
apesar de tudo são o máximo.
Mas o tempo passa e o dia a dia te
coloca em situações em que sentimentos como aborrecimento, incômodo,
prazer, raiva, gratidão, alegria, amor, paixão, desejo passam a fazer
parte da sua relação com o novo conhecido. Você percebe que ele não é um
coitado, e começa a notar que também não é um ser super especial que
supera tudo.
Começa a reparar em suas fraquezas e fortalezas. E, finalmente, o pêndulo se equilibra.
Você,
a partir do convívio, percebe que a pessoa com deficiência não é
coitadinha nem super-herói. É uma pessoa que pode ser muito bacana ou
muito chata. Ter defeitos inaceitáveis ou virtudes raras. Tudo isto
independente de sua deficiência.
Nós, pessoas com deficiência, somos pessoas, como cada outra pessoa deste mundo.
Só incluímos alguém de fato quando somos capazes de termos todo o tipo de sentimento por ela. Do mais nobre ao mais repudiável.
Por Guilherme Bara em
Vida Mais Livre