domingo, 7 de novembro de 2010

Nem Coitadinho Nem Super Herói

Quando conhecemos alguém com deficiência, normalmente, nossas primeiras impressões são canalizadas unicamente nas limitações e privações que imaginamos que o nosso novo conhecido deve ter.

É comum as pessoas pararem para pensar como deve ser o mundo sem poder ver as coisas: o jogo de futebol, as cores, o rapaz ou a menina bonita, o pôr-do-sol, o rosto dos amigos e familiares.

Como será passar a vida sem poder correr, sem poder jogar bola, sem poder em alguns casos pegar sozinho o filho no colo? Viver sem ouvir as músicas e os diversos sons das pessoas e do planeta?

Como deve ser uma vida com dificuldade de compreensão? Como deve ser difícil ser tão diferente?

Pensamos tudo isso enquanto o tempo passa. E o tempo passa e a gente descobre pouco a pouco algumas coisas que eram inimagináveis para nós.

Descobrimos que o rapaz cego costuma correr com os amigos, algumas vezes até compete, já fez rapel, nada, voa de paraglider. Descobrimos que o cadeirante trabalha, faz teatro, se apaixona, sorri; Descobrimos que o surdo dança, viaja, se diverte, se comunica; Descobrimos que as pessoas com deficiência intelectual passeiam, vão ao shopping, namoram.

E quase sem percebermos, aquelas pessoas que nos causavam embaraço até para pensarmos nelas, passamos a vê-las quase como super-heróis. Que apesar de tudo são o máximo.

Mas o tempo passa e o dia a dia te coloca em situações em que sentimentos como aborrecimento, incômodo, prazer, raiva, gratidão, alegria, amor, paixão, desejo passam a fazer parte da sua relação com o novo conhecido. Você percebe que ele não é um coitado, e começa a notar que também não é um ser super especial que supera tudo.

Começa a reparar em suas fraquezas e fortalezas. E, finalmente, o pêndulo se equilibra.

Você, a partir do convívio, percebe que a pessoa com deficiência não é coitadinha nem super-herói. É uma pessoa que pode ser muito bacana ou muito chata. Ter defeitos inaceitáveis ou virtudes raras. Tudo isto independente de sua deficiência.

Nós, pessoas com deficiência, somos pessoas, como cada outra pessoa deste mundo.

Só incluímos alguém de fato quando somos capazes de termos todo o tipo de sentimento por ela. Do mais nobre ao mais repudiável.
Por Guilherme Bara em Vida Mais Livre

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