Centista e santo da Igreja Católica. Ao longo da história são raros os
casos em que essas qualificações se aplicaram à mesma pessoa. Até porque, para
muitos, fé e ciência são incompatíveis. Por seus estudos de genética e por ser
um defensor das causas da Igreja, Jérôme Jean Louis Marie Lejeune foi um dos
poucos homens a transpor essa barreira.
Morto aos 68 anos, vítima de um câncer, em 3 de abril de 1994, há exatos
20 anos, o médico francês poderá ser canonizado em breve pela Igreja.
Lejeune, o pai da
genética moderna
Jérôme Lejeune nasceu em Montrouge, na França, em 1926. Foi pediatra, professor
de genética e cientista, e seu nome é sempre lembrado em função de sua
descoberta da origem da Síndrome de Down: uma anomalia no cromossomo 21, que
gera a trissomia 21, como também é chamada.
Foi em 1958, após seis anos de carreira, que o francês conseguiu revelar
fotos de cromossomos em seu laboratório e expôs uma hipótese sobre a influência
deles como causa da Síndrome de Down. Na época, o cientista estudou o
caso de três meninos portadores, para comprovar sua hipótese que, foi, aliás, a
primeira na história a estabelecer um vínculo entre um estado de
deficiência mental e uma aberração cromossômica.Imagem de cromossomos humanos durante uma de suas
fases de formaçãoFoto: Wikipédia
"A Síndrome de Down já
havia sido descrita por John Langdon Down, quase 100 anos antes.
Lejeune identificou a alteração genética responsável pelo quadro, o que
possibilita a realização do diagnóstico laboratorial pelo cariótipo. Isto
quase anula a possibilidade de erro diagnóstico, e também tornando viável o
aconselhamento genético para os pais", explica a médica geneticista do
Ambulatório de Diagnóstico da Apae de São Paulo, Dra. Fabíola Paoli.
Entre os prêmios e honrarias recebidas pelo professor, um especial foi
entregue pelas mãos do presidente americano John F. Kennedy em 1962Foto: AFP
Segundo a médica, as pesquisas de Jerome
Lejeune, não só direcionadas para a Síndrome de Down, foram capazes de
pavimentar o caminho para a descoberta de muitas outras aberrações que ocorrem
com certa frequência.
Após quase 60 anos da descoberta do
francês, portadores de Down possuem uma qualidade de vida melhor - vivendo
quase 50 anos a mais do que na década de 1940 (hoje, a expectativa de vida está
entre 60 e 70 anos e na época era de, no máximo, 18 anos).
Outros avanços nesta área também
aconteceram em relação à conscientização, estímulo e de acompanhamento das
crianças com síndrome de Down. No Brasil, desde 2012, o Ministério da Saúde
publicou um manual com diretrizes para a Atenção à Saúde da Pessoa com
Síndrome de Down no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) - um grande passo para
as famílias e os portadores.
Um cientista contra o aborto
Por causa da descoberta da anomalia no cromossomo 21 e de outras realizadas
depois, Lejeune é chamado de “pai da genética moderna”, obtendo, ainda em vida,
entre várias honrarias e títulos, os de doutor Honoris Causa das universidades de Düsseldorf (Alemanha),
Pamplona (Espanha), Buenos Aires (Argentina) e da Pontifícia Universidade do
Chile.
O “pai da genética moderna” era
também membro da Academia de Medicina da França, da Academia Real da
Suécia, da American Academy of Arts entre outras. Ele ainda participou e
presidiu comissões internacionais da ONU e OMS.
Como cientista, ganhou prêmios pelos
seus trabalhos sobre as patologias cromossômicas, entre os quais o Prêmio
Kennedy em 1962, que recebeu diretamente das mãos do presidente John F.
Kennedy.
Apesar de todos os
títulos e descobertas importantes para a ciência, o médico francês nunca chegou
a ganhar um Prêmio Nobel. Lejeune chegou a falar que perdera este prêmio por
ser um cientista que se posicionava contra o aborto, aliás, afirmava
ser “a favor da vida”. “Se um óvulo fecundado não é, por si só, um ser
humano, ele não poderia se tornar um, pois nada é acrescentado a ele”,
defendia o cientista.
O Papa
João Paulo II visitou em 1997 o túmulo do professor Lejeune, que morreu em
1994. O cientista descobridor da trissomia 21 foi oponente
do aborto e ativista da IgrejaFoto:
AFP
Em
1971, quando fez um discurso contra o aborto noNational Institute for Health, mandou uma mensagem à sua esposa dizendo: “hoje
perdi meu Prêmio Nobel”.
Católico fervoroso, o geneticista era
amigo pessoal do Papa João Paulo II, quem fez questão de visitar sua túmulo em
Paris e que, por várias vezes, foi visto com o cientista.
A poucos passos da santidade
Apesar de não ter recebido o prêmio Nobel, Lejeune poderá receber um dos
maiores "prêmios" da humanidade: quase sete anos depois da abertura
da causa de beatificação e canonização (realizada em junho de 2007) e
vinte anos depois de seu falecimento, a etapa diocesana
- que consiste em um trabalho de instrução e análise do "servo
de Deus", realizado por voluntários, peritos, historiadores,
cientistas e teólogos - foi finalizada.
Agora, o processo de santificação
passará por nova fase e será analisado no Vaticano.
Caso seja considerado santo, Jérôme
Lejeune fará parte do raro time daqueles que defendiam tanto a Ciência,
quanto a religião. Em mais de dois mil anos, o pai da genética moderna poderá
estar entre os 12 médicos santos da Igreja.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/medico-que-descobriu-a-origem-do-down-pode-ser-canonizado,5fd5c68ce2525410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
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