Escolher a escola é uma das decisões importantes que os pais têm de
fazer sobre o futuro do filho. Quando a criança tem alguma deficiência
intelectual, os adultos se deparam com a necessidade de definir ainda se
a matrícula será em sala regular –em que ela conviverá com colegas da
mesma faixa etária– ou em uma especial (em uma instituição específica ou
em uma comum que ofereça turma separada), na qual ficará reunida
somente com alunos que tenham algum tipo de deficiência.
Qual é a melhor opção? A opinião dos especialistas não é unânime.
Depende, de acordo com Estevão Vadasz, coordenador de projetos de
transtornos do desenvolvimento e coordenador-chefe do Ambulatório de
Autismo, ambos do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas) da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Vadasz diz que, para tomar a decisão, os pais, auxiliados por médicos e
outros especialistas que trabalham com deficiências intelectuais, devem
levar em conta o grau de atraso da criança, que é mensurado com testes
neuropsicológicos e clínicos.
Se a deficiência for de grau muito leve, o especialista afirma que a
pessoa pode frequentar a classe regular e, no período em que não estuda,
ter assistência especializada para o reforço.
No caso de deficiência com grau profundo, é interessante que o aluno
esteja em uma sala especial para a aprendizagem das disciplinas
clássicas, como língua portuguesa e matemática, e se reúna com todos
para aprender arte, esportes, música e outras atividades com caráter
lúdico. "Se a família insistir para o filho com atraso profundo ficar na
classe regular, estará se iludindo", de acordo com Vadasz.
O psiquiatra ainda afirma que o problema de o estudante com deficiência
intelectual de grau profundo fazer parte de uma turma regular também
tem a ver com os professores. Vários não estão preparados para a
situação. É importante não esquecer que muitos autistas, por exemplo,
precisam de atendimento individualizado.
Desafios versus aprendizagem
Fazendo um contraponto bastante severo a Vadasz, Jean-Robert Poulin,
pesquisador canadense em inclusão escolar e coordenador do curso de
formação de professores em Atendimento Educacional Especializado da UFCE
(Universidade Federal do Ceará), declara que segregar alguém à sala
especial, seja lá qual for a deficiência, é o mesmo que ensinar uma
pessoa a nadar fora da piscina. "É necessária a convivência com todos e o
enfrentamento de desafios cotidianos para haver aprendizagem."
Rita Vieira de Figueiredo, pesquisadora em inclusão escolar e
coordenadora do mesmo curso que o canadense, afirma que obviamente o
aluno com deficiência terá mais dificuldade para realizar a mesma tarefa
que os demais. Para resolver a questão, basta o professor variar o
formato de apresentação, flexibilizar o tempo e as expectativas e traçar
metas de aprendizagem condizentes com ele, sem subestimá-lo. "Todos
podem aprender", afirma Rita.
Para o período em que a criança não está na aula, ela sugere que o
estudante frequente a chamada sala de recursos (espaço para atendimento
especializado de estudantes com necessidades educacionais especiais) e
seja atendido para trabalhar questões pontuais, como problemas de fala,
de compreensão e de expressão.
A pediatra Ana Cláudia Brandão, responsável pelo ambulatório de
Síndrome de Down do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo,
também diz que a turma regular é a melhor opção. Ela chama atenção para o
risco de, na classe especial, convivendo somente ou a maior parte do
tempo com colegas com deficiência, o aluno desenvolver um comportamento
estereotipado.
"É na diversidade que ele vai ter contato com pessoas de comportamento
diferente e aprenderá com elas", diz Ana Cláudia. Isso ajudaria a
evitar, por exemplo, que a criança faça birra ou grite quando quer algo
e, em consequência, sofra preconceito.
Embora discordem quanto ao tipo de sala de aula para a pessoa com
deficiência intelectual, Vadasz, Poulin, Rita e Ana Claudia concordam
que é essencial que os pais não afastem os filhos do convívio social em
geral. "A vida não é só escola. A criança tem de frequentar vários
ambientes. Isso é importante para evitar que ela desenvolva distúrbios
de comportamento", diz Estevão Vadasz.
Ana Claudia ainda diz que, para educar alguém com deficiência
intelectual, a família não pode esquecer que a criança vai se tornar um
adulto e, por isso, precisa aprender coisas, fazer amizades, passear,
ter sonhos, fazer planos e enfrentar desafios para ganhar autonomia.
"Os pais devem se identificar com os professores, com o projeto
pedagógico e com o espaço físico. Não é necessário que a escola já tenha
experiência com deficiências: o corpo docente aprende a trabalhar com
uma situação diferente quando ela existe", declara a pediatra.
Escola regular: um direito
Os pais precisam estar cientes de que o filho com deficiência tem o
direito de estudar em uma escola regular. O acesso é assegurado porque o
Brasil decretou em 2009 que tudo o que está escrito na Convenção
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, de 2007, deve ser
cumprido.
Em território nacional também tem poder de lei o texto da Convenção
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, assinada na Guatemala, em
1999. Ambos os documentos garantem o direito à educação de todas as
pessoas com deficiência nas escolas comuns: a matrícula tem de ser
aceita.
"Ir à escola é essencial para qualquer pessoa. Se alguém com
deficiência intelectual for deslocado para uma vida social à parte,
sofrerá uma perda social considerável. A escola é o lugar onde as
pessoas aprendem a viver a vida pública. Sem levá-la à escola, os
próprios pais estarão negando esse direito aos filhos", diz Maria Teresa
Égler Mantoan, professora da Faculdade de Educação e coordenadora do
Leped (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade, ambos
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Fonte: http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2013/01/23/sala-especial-ou-regular-como-escolher-a-melhor-opcao-para-criancas-com-deficiencia-intelectual.htm