A placa na vitrine estampava em letras garrafais: "Precisa-se de vendedora". Mas, quando Marta Adriana Poci Cabral, 40, ofereceu seu currículo, a gerente não hesitou em dizer que a vaga já havia sido preenchida. Não fosse seu 1,30 m de estatura, diz, teria sido contratada. "Sou boa profissional e tenho experiência no ramo. Foi puro preconceito", lembra a artista plástica, que hoje mantém com a irmã, Mila Poci Cabral, 37, também anã, a loja Casinha Pequenina. "Todo mundo diz que a loja, de miniaturas, é a nossa cara", comenta Mila, que é atriz e trabalha com eventos.
Para a carreira, o mundo artístico é o mais procurado pelos anões. "Por conta da estatura, o anão sempre foi ridicularizado. Era o bobo da corte, o palhaço do circo. Fazer o quê? Nós temos de sobreviver de alguma maneira", explica o publicitário Hélio Pottes, presidente da Associação Gente Pequena.
Cristiane Limeira Lorenço, 30, que tem 1,30 m, ingressou nesse mercado justamente por falta de opção. "Trabalhei com eventos durante 13 anos. Só consegui uma colocação formal depois que a lei estabeleceu a contratação de deficientes. Não acreditavam na minha capacidade", conta. Atualmente, ela é auxiliar de escritório, mas ainda participa de eventos. Seu marido, o advogado Leonardo Fernandes da Cruz, 30, também tem nos eventos uma segunda ocupação. "Meu 1,40 m permite que me disfarce de gnomo. É uma maneira de eu tirar dos ombros o peso do mundo jurídico", reflete.
Legislação: Lei de Cotas facilita a inclusão de anões no mercado de trabalho.
A primeira lei de inclusão da pessoa com deficiência, a Lei de Cotas, surgiu em 1991 e não incluía o nanismo como deficiência. Para o IBGE, a anomalia tampouco é considerada. "Até hoje não se sabe o número exato de anões que vivem no Brasil. Estima-se que seja 1 para cada 10 mil habitantes", afirma Pottes. No entanto, com o decreto-lei nº. 3.298/99, o nanismo passou a figurar entre as deficiências e representou um grande avanço na inserção do anão no mercado de trabalho.
A advogada Tatiana Muniz, 1,26 m, é exemplo disso. Contratada por um banco, deixou o escritório particular em que trabalhava havia três anos. Ela cuida da seção de determinações judiciais e afirma que seu trabalho é muito respeitado pelos colegas. "Sempre tive de lutar muito por causa de minhas limitações. Foi difícil, mas eu consegui", comemora.
Essa determinação não nasce sozinha. Segundo Pottes, o apoio da família é fundamental. "Temos de preparar os filhos para o mundo, dar as sementes necessárias para que colham a vida com coragem", ensina.
Formada em enfermagem pela PUC-SP, Kênia Hubert, 51, também encontrava dificuldades para obter um emprego. "Perguntavam-me como eu atenderia uma parada cardíaca. Não acreditavam na possibilidade de eu ser formada", diz. O único hospital que lhe deu uma chance foi o Beneficência Portuguesa, em 1981, quando a Lei de Cotas ainda não existia. A enfermeira enfrentou não apenas o preconceito dos colegas que criticavam a sua contratação, mas também a desconfiança dos pacientes. No entanto, conseguiu virar o jogo: "A relação de confiança surge ao demonstrar conhecimento. Quando se transmite o que se sabe, a barreira de preconceito é quebrada", declara Kênia, que atualmente é chefe da seção de curativos do hospital.
Foco deve ser no Desempenho.
Para especialistas, é importante que a contratação não seja pautada pela deficiência.
'A obrigatoriedade da contratação de pessoas com deficiência em empresas privadas, estabelecida pela lei nº. 8.213/91, pode causar mal-estar nas firmas que empregam essas pessoas apenas com o objetivo de preencher a cota e, consequentemente, livrar-se das multas". Porém, na opinião de Maria de Fátima e Silva, gerente de responsabilidade social da Gelre, empresa especializada em recrutamento, esse cenário precisa ser transformado. De acordo com ela, é imprescindível focar no profissional, priorizando a excelência do trabalho e não a deficiência. "Precisamos acabar com o conceito de contratar a deficiência. Por exemplo, não existe a profissão de anão. O que existe é o profissional que pode apresentar essa anomalia, mas que não terá seu desempenho afetado por isso", justifica.
Percebendo a potencialidade de quem apresenta nanismo, a companhia aérea Gol emprega 306 pessoas com deficiência em todo o Brasil, das quais 35 são anãs - ou "pequenas", como são chamadas internacionalmente. Elas começam com auxiliares de aeroporto, que checam bagagem e orientam passageiros, sempre com a possibilidade de promoção. A gerente de desenvolvimento de pessoal, Rosângela Manfredini, afirma estar satisfeita com o resultado. "Os pequenos são excelentes porque têm muito jogo de cintura, são simpáticos, alegres e incorporam o espírito da empresa", elogia.
Liziane Soares Dias, 28, 1,20 m, que trabalha no aeroporto de Porto Alegre, largou o trabalho de atendente para tentar obter melhores oportunidades na companhia aérea. Ela declara que foi uma boa opção, pois trabalha numa área nova, em que aprende todos os dias. Como em todas as carreiras, a qualificação profissional é essencial para que o profissional se destaque. De olho nisso e em busca de um futuro promissor, Cleber Pereira, 23, 1,37m, também auxiliar de aeroporto, já traçou seu plano de desenvolvimento profissional. "No ano que vem, entrarei na faculdade de ciências da computação ou estudarei recursos humanos", diz. (MCN)'.
Informações sobre Nanismo.
Existem cerca de 200 tipos de NANISMO em todo o Mundo. O mais comum é a acondroplasia. Ela é uma anomalia genética, não necessariamente hereditária. A estatura dos anões varia de 70cm e 1,40 m, e sua capacidade intelectual é normal. Folha de São Paulo.
Entidades que fornecem informações sobre Nanismo, direitos, legislação e mercado de trabalho:
Fonte: http://www.bengalalegal.com/nanismo